sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Life on Mars?

Aproveitando o fato do assunto ‘vida’ ter sido lançado por minha cara amiga Emily, por que não falar do seu significado? [‘Porque é extremamente clichê’, sim, sei disso.]

Desde que nos entendemos por espécie superior, buscamos um significado maior para as coisas que nos rodeiam. Das forças da natureza, a pequenos ou grandes acontecimentos, sempre haverá alguém enxergando um sinal divino. A questão é: por que precisamos tanto de um sentido para a vida? Pode até ser exagero, mas vejo nisso uma certa arrogância humana. Bem, talvez seja apenas ingenuidade, já que somos tão, tão limitados. O fato é que basta observar os mitos religiosos ocidentais como um todo para constatar que os deuses preferem um grão de areia azul perdido na periferia cósmica à uma bela supernova, por exemplo. Pior ainda é ver essa ingenuidade mesmo no mundo científico, buscando em outros planetas vida semelhante à do nosso.

Somos tão complexos, tão inteligentes, tão perfeitos que nada mais natural que pensar que o universo gira ao redor de nosso mundo. Nada mais deduzível  que para seres tão sublimes há um significado mágico e profundo – e vejo no fato de pensarmos que animais não possuem alma uma confirmação disso. Se ainda não ficou claro meu ponto, um dos motivos para necessitarmos tanto de uma razão transcendental à existência é por isso nos fazer superiores e especiais.

Outro possível motivo é um tanto mais fisiológico. Há uma região em nosso cérebro encarregada de ‘ler’ intenções escondidas nas coisas. Essa capacidade é essencial para a sobrevivência em sociedade e, talvez, seja um dos fatores que desencadeou a formação da cultura, principalmente no âmbito religioso, já que passamos a ver intenções onde, a priori, não há, como nas forças naturais, por exemplo. Tudo isso, porém, ainda não justifica a nossa necessidade de uma causa maior.

Muitas pessoas encontram um significado na religião e um ponto comum entre quase todas elas é a ideia de continuação. O fim é um pensamento tão desesperador quanto o acaso.

Talvez esse seja o sentido da vida: apenas a continuidade de si mesma. Moramos no meio do nada e não temos vizinhos. Mesmo condenados a extrema insignificância, comparados ao cosmos, com certeza, não há outros como nós por aí – outro motivo que me faz ver certa ingenuidade da comunidade científica, por não haver garantias de que aconteça em outro lugar a vida como a conhecemos.

Ou seja, somos pequenos mas, também, únicos. Frutos de uma série de acontecimentos e circunstâncias aleatórias que dificilmente se repetiriam por aí, então realmente não há uma razão maior à toda e qualquer vida do que continuar essa aventura.


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Jogo da Vida

Em algum momento nos anos de 1980, alguém teve a brilhante idéia de criar um novo jogo, daqueles de tabuleiro – e ao menos um desses, certamente, entreteve muitos de nós por horas a fio – que pretendia “simular” situações reais da vida de um ser humano médio. Passeando pela Wikipédia, descobri que o jogo foi lançado no Brasil em 1992 e virou febre nas mãos de muitos brasileiros nascidos nos anos 80, perdurando até hoje nas prateleiras das lojas de brinquedo.

Nele você pode escolher uma carreira, casar, criar os filhos, sofrer com os inúmeros impostos que lhe são cobrados, vender e comprar. De forma simplista, o vencedor é aquele que, no final do jogo, tiver acumulado mais, quem detiver a maior riqueza. Com o slogan “uma disputa emocionante em busca do sucesso”, é tido como um jogo de nível estratégico e de dificuldade baixos, cujas habilidades necessárias para jogar limitam-se a “sorte e gestão simples”. “Ganhe dinheiro, tenha filhos, construa uma carreira!” é a palavra de ordem.

Por mais estranho que possa parecer, não, não estou recebendo nada em troca para falar isso por aqui, muito menos vou gastar outras tantas palavras e pensamentos descrevendo o como é agradável a brincadeira, ou contar uma história da infância em que me diverti consumindo horas preciosas jogando em tardes chuvosas. Nunca tive a oportunidade de jogá-lo: na realidade, nem sei direito como funciona, mas o que sei já é suficiente para traçar um paralelo um tanto clichê...

É interessante pensar que, assim como no tal jogo de tabuleiro, em que giramos uma roleta e temos o controle sobre um peão colorido com o único objetivo de chegarmos vitoriosos ao fim, a dimensão em que existimos também pode ser um tabuleiro, em que nós exercemos o papel de peões coloridos, com nossas vidas condicionadas ao girar de uma roleta – ou quem sabe a um jogar de dados – por alguma coisa que sequer podemos ver ou ter a certeza que existe (nesse caso, ‘alguma coisa’ pode ser qualquer coisa. Cada um atribui a isso a forma e o significado que bem entender).

Vivemos numa espécie de jogo, trancados na já apresentada intrincada rede de conexões – que vale dizer, acho difícil que seja entendida em toda a sua complexidade algum dia – alimentando o sonho de que somos criaturas livres. A liberdade parece ser a coisa mais magnífica que o homem pode desfrutar. Como se alguém a tivesse vivido de tal maneira e a tal ponto que possa afirmar convicto que é/foi livre...

Já parou para pensar que nunca fomos ou seremos completamente livres? Ainda que a democracia, o advento da comunicação em massa, com direitos expressos em pomposas declarações garantindo liberdade de expressão, pensamento, associação, locomoção, dentre tantos outros artifícios humanos tentem nos convencer do contrário? Nunca passou por sua cabeça o pensamento de que, ainda assim, vivemos amarrados a uma série de acontecimentos, coincidentes ou não, que limitam nossa vida, nossa liberdade real de escolha e até mesmo nossas opções a meros desdobramentos do acaso que mudam drasticamente vidas – não necessariamente apenas a nossa individualmente falando, mas também a de outras pessoas a quem você nem conhece e possivelmente, jamais vai conhecer – de forma inexplicável?

De repente, de maneira inexplicável, você decide dormir mais cinco minutinhos numa certa manhã e acaba saindo cinco minutos mais tarde que o rotineiro para ir à escola, por exemplo. O que acaba acontecendo é seu ônibus passar na hora certa e você chegar com dez minutos de atraso a seu destino. Por conta disso, levou uma notificação da rígida instituição, seus pais não ficaram contentes com isso e você passou a tarde aborrecido com o sistema educacional, não estudando nada nesse espaço de tempo. O conhecimento que deixou de acumular naquele momento foi exatamente aquele necessário para que você resolvesse uma questão no vestibular daquele ano. Aquela questão foi o que te separou da aprovação no curso dos seus sonhos.

Tá, concordo que a situação ficou levemente exagerada, mas quem garante que aqueles cinco minutos a mais de sono não tenham realmente mudado completamente a sua vida de forma inexplicável? E o que você poderia ter feito para evitar isso? Não ter dormido além do costume? Imagino que talvez você tivesse conseguido alterar a cadeia de acontecimentos, mas sem nenhuma garantia de que o resultado iria ser diferente...

Percebe o pouco controle que temos sobre os infinitos acontecimentos que nos cercam e quanto nosso livre-arbítrio parece insuficiente?

Não estou querendo dizer que tudo se resume a uma questão de destino ou coisa assim, que temos que sentar e esperar as coisas acontecerem, já que não temos controle sobre elas. O que estou devaneando aqui é o simples fato de que, talvez, não sejamos tão donos de nossos caminhos como tendemos a supor; que talvez existam forças/criaturas/existências que manipulem nossas vidas como num jogo, que se divirtam com os casos e acasos que criam e brincam de tirar a sorte na roleta enquanto movimentam os peões que somos num belo tabuleiro.

As coincidências que fazem das pequenas vidas humanas peças bastante intrigantes podem ser apenas um golpe de sorte ou azar de algo que não temos capacidade para entender, que joga “Jogo da Vida” para distrair a vida imortal e tediosa que leva em algum ponto do espaço-tempo.

E cá estamos nós, crendo que somos únicos e todo-poderosos no Universo!

Engraçado é imaginar que estamos vivendo o tal jogo em, ao menos, três dimensões distintas: uma, em que somos instrumentos da brincadeira; outra, em que jogamos com nossas próprias vidas e com a dos outros, tentando sobreviver num mundo tão hostil com o pouco livre-arbítrio que nos resta e que, diferente da terceira dimensão – que seria tão somente o brinquedo que vendem nas lojas -, exige muito mais que sorte e capacidade de gestão simples, cujo nível de estratégia e dificuldade supera uma possível significação em palavras.

E, seguindo uma brilhante idéia de Luís Fernando Veríssimo (na crônica ‘Tintim’) de imaginar o “infinito pra dentro”, talvez as peças com que brincamos também sejam seres dotados com uma espécie de vida e divirtam-se brincando com outras da mesma maneira que nós, ao mesmo tempo em que tecem conspirações mil sobre a força que as move, que não conseguem ver nem alcançar, mas que igualmente mudam suas histórias...

E segue-se o infinito...

Por fim, encerrando aquilo que pareceu ser uma eternidade a quem lê, deixo uma curiosa descrição do “Jogo da Vida” presente em um site de vendas:

“A vida é um jogo! (...) Grandes surpresas, situações difíceis ou golpes de sorte não param de acontecer pelo caminho. Você nunca sabe o que lhe espera no futuro.”

Deve ser essa a emoção de viver...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Curiosidade 1

Hoje, não pretendo postar outro texto chato e sem sentido, primeiro porque não estou inspirada (o que não quer dizer nada =P), e segundo porque eu simplesmente quero compartilhar com vocês algo diferente.

Então vejamos...

Dia desses estava procurando na internet umas referências que li recentemente em um livro e acabei me deparando com um quadro muito famoso de Rembrandt, só que não era exatamente o original, mas sim uma reprodução feita por Olavo Bilac e seus amigos. Achei realmente legal e acabei salvando a imagem. E hoje, enquanto vasculhava o PC, acabei me deparando novamente com a reprodução e pensei “seria interessante posta-la no Baú”.

Primeiro, o original.


A Lição de Anatomia do Dr. Tulp - Rembrandt Harmenszoon van Rijn, 1632

Agora a reprodução fotográfica de Bilac.



Olavo Bilac, Leôncio Correia, Henrique Holanda, Pedro Rabelo, o doutor Pederneiras, Álvaro de Azevedo Sobrinho e Plácido Júnior. O autopsiado é Artur Azevedo e o legista, com um sabre, é Coelho Neto.

Curioso, não acham? Quem acreditaria no senso de humor da época? xD